Aos 31 anos, Andrey voltou a se sentir motivado em jogar futebol. O goleiro do Guarani, que está há 392 minutos sem sofrer gols na Série C, chegou a considerar uma aposentadoria precoce em meio aos altos e baixos da carreira.
Revelado pelo Botafogo, onde foi apelidado de “novo Jefferson”, Andrey subiu ao profissional em 2012 justamente para ser o reserva do ídolo. As expectativas aumentaram quando foi convocado por Rogério Micale para disputar os Jogos Pan-Americanos de 2015, onde conquistou a medalha de bronze com a seleção brasileira em Toronto.
— Eu acompanho o Andrey desde o Botafogo no Rio de Janeiro. Sempre foi um atleta que entregou muito dentro de campo. Ser goleiro é como andar de bicicleta: você não desaprende. Nosso trabalho foi resgatar o que ele já tinha construído no futebol. É um cara com muito conteúdo e qualidade, pessoal e profissionalmente — destacou Arzul, preparador de goleiros do Guarani.
Apesar das promessas iniciais, Andrey não conseguiu espaço no Botafogo por causa da concorrência com Jefferson e, depois, Gatito Fernandez. Passou por Botafogo-SP, Cabofriense, Volta Redonda, Sampaio Corrêa e CRB até viver o momento mais difícil da carreira, em 2020.
— Foi o momento mais duro da minha carreira, esse período de 2020 até chegar na Desportiva. Parece história de superação que todo mundo quer contar, mas foi muito difícil. O telefone não tocava, e quando tocava, apareciam apenas clubes com histórico ruim de pagamento. Pensei em desistir, mas não tive essa coragem. Contei com o apoio da minha família para dar a volta por cima.
A reviravolta veio na Desportiva Ferroviária, onde Andrey conseguiu a maior sequência de jogos desde 2018 e foi eleito o melhor goleiro do Campeonato Capixaba no ano passado.
— O meu empresário foi um verdadeiro amigo. Me incentivou, trabalhou comigo quando ninguém mais acreditava. Ele fez de tudo para me ajudar, e conseguimos passar por esse momento, recuperando a confiança. Estou muito feliz em vestir hoje a camisa de um grande clube.
Das críticas ao recorde
Contratado em abril para substituir Gabriel Mesquita, Andrey teve um início instável no Guarani. Falhou na derrota para o Caxias por 2 a 0, fora de casa, e se atrapalhou em dois lances contra o Botafogo-PB. Em um deles, no entanto, se redimiu ao defender um pênalti cobrado por Camilo, o que garantiu o respaldo da comissão técnica.
— No início eu estava tentando entender o que estava acontecendo. Hoje vejo que era ansiedade, pressa demais. Não foi fácil, mas eu sabia que todo grande goleiro passa por isso. Minha família me ajudou muito, minha esposa veio do Rio para ficar comigo e a comissão confiou no meu trabalho. Isso foi fundamental.
Desde então, Andrey cresceu em confiança e alcançou o recorde do time em 2025: 392 minutos sem ser vazado. Ele passou ileso nas últimas três rodadas e foi decisivo na vitória contra o Retrô, no último sábado, que tirou o Bugre da zona de rebaixamento.
— Esses jogos sem sofrer gols são fruto de muito trabalho, humildade e pés no chão. A comissão técnica chegou com um novo gás, resgatou nossa confiança e espírito competitivo. O início não foi bom, mas serviu de aprendizado, e conseguimos virar a chave.
De uma família de goleiros, Andrey tem os irmãos Andrew e Carlos Ventura atuando no Gil Vicente, de Portugal. Juntos, eles superaram a perda da mãe no ano passado. Dona Dulcineia criou os três sozinha desde a morte do marido em 2009 e foi a maior incentivadora do trio.
— A minha mãe sempre foi a minha maior força. Nunca deixou eu desistir. Quando ela estava viva, dizia que ainda dava tempo de dar a volta por cima. Quando ela faleceu no ano passado, foi muito difícil, mas eu quis honrar a memória dela. Isso me deu um gás enorme para continuar.
