”Maestro” do Mirassol, Gabriel foge do padrão boleiro

Meia baiano é destaque no Brasileirão e chama atenção por seu gosto por livros e MPB

Por: Neila Gonçalves
8 horas atrás em 13 de outubro de 2025
Foto: Pedro Zacchi



Entre acordes de Belchior e páginas de Charles Dickens, Gabriel escreve um capítulo singular dentro do futebol brasileiro. O meio-campista baiano, cérebro do surpreendente Mirassol no Brasileirão de 2025, é um personagem à parte — culto, discreto e avesso ao estereótipo do boleiro comum.





Aos 35 anos, o camisa 10 do Leão vive um momento de plenitude na carreira, guiando o time sensação da Série A com a mesma serenidade com que comenta um livro ou cita uma música. Gabriel não tem redes sociais, não busca holofotes e, curiosamente, nem planejava ser jogador profissional.





Das peladas de Salvador ao profissionalismo por acaso





Quando tinha quase 20 anos, Gabriel ainda jogava nas várzeas de Salvador, sem imaginar que o destino o levaria ao futebol de elite. O talento, porém, falou mais alto — e foi em uma dessas partidas amadoras que o então presidente do Bahia o descobriu. Pouco tempo depois, o jovem “baba” passou a vestir a camisa tricolor.





A trajetória, improvável e tardia, transformou-se em uma carreira sólida. Do Bahia ao Flamengo, passando por Sport, Japão, Coritiba e CSA, até chegar ao Mirassol, o meia somou experiências, amadureceu e consolidou um estilo de jogo técnico e cerebral.






“Com 19 anos, já não tinha sonho de ser jogador. Mas Deus foi abrindo as portas. Tudo aconteceu no tempo certo”, relembra o jogador.






Entre Belchior e Dickens, o intelectual da bola





Se dentro de campo Gabriel comanda o ritmo, fora dele ele prefere o compasso das letras e dos livros. Fã de Belchior e Zé Ramalho, ele costuma citar versos do cantor cearense para expressar a pressa de viver e a intensidade de quem enxerga o futebol como arte.





A paixão pela leitura também o acompanha. Atualmente, o meia lê Oliver Twist, de Charles Dickens — e acredita que o hábito de ler é um diferencial para qualquer pessoa.








“A leitura ajuda o cérebro a fluir melhor. É importante ter esse costume. Sempre tenho um livro comigo”, comenta o camisa 10.






Ídolo no Leão e maestro em campo





Há três temporadas no Mirassol, Gabriel virou um símbolo do clube. São 126 jogos, 19 gols e 11 assistências — números que o colocam entre os grandes nomes da história recente do time. Foi dele o gol que marcou a estreia do Mirassol no Maracanã, diante do Flamengo, um momento que entrou para a memória do torcedor.






“Nada supera o trabalho. Aqui, acreditamos no dia a dia, na disciplina e no grupo. O sucesso do Mirassol vem disso”, resume o meia.






Sem prazo para o último capítulo





Mesmo aos 35 anos, Gabriel não pensa em aposentadoria. Brinca dizendo que só vai parar “quando não deixarem mais jogar”.






“Enquanto tiver forças e o clube achar que posso ajudar, estarei em campo. Futebol é o que amo fazer.”






Com os pés firmes na bola e a cabeça entre músicas e livros, Gabriel transforma o cotidiano do futebol em uma narrativa singular — onde o craque se mistura ao leitor, e o atleta se revela um personagem raro: um poeta que joga de terno e faz da bola sua literatura viva.