Processo que prometia modernizar o futebol grená acabou marcado por controvérsias, suspensões internas e a ruptura com parte da torcida
Foto: ReproduçãoNo dia 14 de junho, a diretoria do Juventus da Mooca realizou uma reunião para mudar a história do time da Rua Javari. Juntamente com os associados, os diretores da equipe discutiram uma possível transformação do clube em uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
Os dirigentes enxergavam que a chegada de um aporte financeiro e o comando de empresários ajudariam o Moleque Travesso a subir de nível e proteger o patrimônio social do clube. Durante a reunião, os conselheiros presentes apresentaram os principais pontos do modelo e esclareceram dúvidas dos associados. A diretoria prometeu total transparência no processo e reforçou que a construção da melhor proposta seria feita de forma coletiva, ouvindo a comunidade juventina.
Também nesta reunião, três propostas foram colocadas na mesa. O projeto que mais chamou a atenção foi o da gestora REAG Capital, em parceria com a Contea Capital, que previa um aporte de R$ 500 milhões e a meta de levar o time da Mooca à elite do futebol paulista até 2027. Além disso, o grupo de empresários também ficaria responsável por reformar e modernizar o Estádio Conde Rodolfo Crespi, elevando a capacidade do local de 5 mil torcedores para 15 mil, o que não agradou à torcida da Juventus, que enxerga o estádio “raiz” como parte da identidade do clube.
O presidente Tadeu Deradeli e o Conselho Deliberativo da equipe receberam a proposta e iniciaram uma avaliação interna da oferta. Três dias depois, no dia 17 de junho, o Conselho Deliberativo do Juventus-SP aprovou a transformação do clube em SAF. A votação ocorreu com a presença de 70 conselheiros, dos quais apenas 18 votaram contra a proposta feita pela Contea Capital e pela REAG Capital Holding. Entretanto, a proposta ainda passaria por uma votação dos associados para, enfim, oficializar a venda do Moleque Travesso.
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“O futebol hoje é muito caro, então a vinda da SAF vai melhorar muito para nós, inclusive no social. Tenho certeza de que o associado vai se juntar a essa vitória para o Juventus voltar a crescer e ser o Moleque Travesso que sempre foi”, disse Tadeu.
No dia 28 de junho, em assembleia dos sócios, 388 associados votaram. O resultado foi claro: 322 aprovaram a SAF, e houve 62 votos contrários, três em branco e um nulo. O índice passou de 83%.
O acordo foi fechado com um investimento de R$ 480 milhões, a promessa de o clube chegar à Série A do Brasileirão em até dez anos e a reforma do estádio.
Entretanto, antes da votação oficial, alguns conselheiros e sócios já haviam se manifestado contra o processo de transformação do clube em SAF. Após esse movimento ter sido levantado, houve cerca de 30 suspensões de conselheiros, que foram afastados por 20 dias sob a justificativa de abertura de sindicâncias. Já os associados receberam suspensões de até 90 dias, com a impossibilidade de retornar às atividades políticas.
Esse movimento levantou suspeitas internas e externas sobre a possibilidade de uma manobra dos dirigentes a favor da oferta, que teriam buscado garantir a vitória do modelo SAF e impedir o voto daqueles que já haviam se posicionado contra a proposta.
A torcida juventina, que inicialmente apoiou a ideia de um grande investimento, após a exposição da reforma no estádio e a venda completa do comando do departamento de futebol, posicionou-se contra a transformação. A principal torcida organizada do time, a Setor 2, rapidamente se manifestou e contou com o apoio do restante da torcida, que via na transformação do time em SAF um passo que destruiria a identidade e a tradição da Juventus.
Já em outubro, a Setor 2 comunicou, em nota oficial em suas redes sociais, que iria paralisar as atividades porque não faria parte dessa “autodeclarada ‘nova fase’”.
Passados quase três meses da oficialização da SAF, o acordo ainda não havia sido concretizado, à espera da realização da due diligence (processo de análise da compra entre as duas empresas). Nesse período, a REAG Capital foi exposta em um escândalo da “Operação Carbono Oculto”, realizada pela Polícia Federal na Faria Lima, em São Paulo, no início de setembro.
A operação descobriu uma rede criminosa que operava em toda a cadeia de distribuição de combustíveis e usava fundos de investimento para lavar dinheiro em benefício do Primeiro Comando da Capital (PCC). Agentes da PF cumpriram um mandado de busca e apreensão na sede da REAG, localizada na capital paulista.
Assim, no dia 8 de outubro, a REAG Capital deixou a SAF do Juventus. O rompimento, segundo fontes ligadas à gestão grená, ocorreu em comum acordo entre as partes. Mesmo com a saída, o valor total do investimento inicial de R$ 20 milhões permaneceu inalterado, mas os prazos para o aporte foram ampliados.
A decisão da REAG ocorreu em meio a uma reestruturação interna da empresa, que anunciou recentemente sua saída da Bolsa de Valores e vem se desfazendo de subsidiárias, como a REAG Investimentos, alvo da operação da PF.
No dia 25 de outubro, os dirigentes da empresa que comandará o clube pelos próximos anos compareceram à sede do Juventus para o anúncio oficial da compra para a imprensa.
A partir de agora, a Contea Capital será a única empresa encarregada de captar recursos, gerar receitas e gerenciar o departamento de futebol. A P&P Sport Management, uma das principais empresas de agenciamento de atletas do mundo, contribuirá para a organização do projeto esportivo da SAF e empregará suas vivências e conexões para impulsionar o futebol do Juventus.