Crise no Juventus trava projeto de arena e expõe desvios

Verba pública destinada à reforma da Rua Javari vira alvo de investigação, dirigentes são acusados de uso indevido e SAF enfrenta novo impasse

Por: Lucas Soares
2 dias atrás em 17 de novembro de 2025
Reprodução



O Juventus vive uma de suas maiores crises institucionais em décadas. O clube da Mooca, que havia recebido R$ 2,3 milhões da Prefeitura de São Paulo para obras de reforma e manutenção do Estádio Conde Rodolfo Crespi, não executou os serviços e agora é alvo de sindicância interna e investigação policial após denúncias de que os recursos foram usados para pagar dirigentes. A situação travou o projeto de transformação da Rua Javari em uma arena, previsto dentro do modelo SAF.

Segundo apuração interna do clube, os valores repassados entre 2019 e 2022 foram destinados para contas dos então dirigentes Antonio Ruiz Gonsalez, Paulo Troise Voci, Ivan Antipov e Raudnei Anversa Freire. Os envolvidos afirmam que todas as contas da gestão foram aprovadas e negam irregularidades, mas o Juventus abriu um boletim de ocorrência na Delegacia de Lavagem de Dinheiro, alegando mau uso dos recursos.

A prefeitura notificou o Juventus após o prazo para entrega do projeto de restauro superar 120 dias, em abril de 2023. Com 25 meses de atraso acumulados, o clube foi multado em R$ 2,95 milhões, além da obrigação de ressarcir R$ 2,36 milhões ao Fundo de Proteção do Patrimônio Cultural. A dívida total ultrapassa R$ 5,3 milhões.

A sindicância interna aponta “uso de recursos públicos vinculados a uma obrigação pública para benefício privado”, afirmando que o dinheiro foi empregado para pagamento de empréstimos feitos pelos próprios dirigentes.

O Tribunal de Justiça suspendeu a reunião após pedido de Ivan Antipov, alegando falta de direito de defesa. A sindicância só poderá ser retomada após novo julgamento do TJ-SP.

Enquanto isso, o projeto da SAF, que previa modernização da Javari e ampliação da capacidade para 15 mil pessoas, está parado. Ao mesmo tempo, a gestora Reag deixou o grupo da SAF após investigações da Polícia Federal apontarem ligações com o PCC, o que também afeta a Portuguesa, onde a empresa atua via Revee. A Contea Capital assumiu o comando do projeto juventino e tenta reorganizar o planejamento para 2026.

A Secretaria Municipal de Cultura informou que reformas emergenciais podem ser feitas mesmo sem o pagamento prévio da dívida, desde que seguindo orientações do Departamento do Patrimônio Histórico. A direção do Juventus, porém, defende que só avançará após responsabilização dos ex-dirigentes.

Em nota, o clube afirmou que não comenta investigações em andamento, mas reforçou compromisso com a transparência e com a proteção do patrimônio moral e material do Juventus.