Menos de uma semana após a votação que o afastou por impeachment, Augusto Melo afirmou neste sábado, 31, que reassumiu a presidência do Corinthians. Aliados articularam sua recondução após uma mudança no comando do Conselho Deliberativo, mas o presidente do órgão, Romeu Tuma Júnior, contestou imediatamente a ação e classificou o episódio como um “golpe de quinta categoria”.
Troca no comando do Conselho Deliberativo
Na manhã de sábado, a conselheira Maria Angela de Souza Ocampos assumiu a presidência do Conselho Deliberativo com base em uma decisão da Comissão de Ética datada de 9 de abril. O conselheiro Mário Mello, relator do caso, formalizou a medida apenas na sexta-feira, 30, ao assinar um ofício e enviá-lo à secretaria do Conselho.
Com o respaldo de Maria Angela, aliada declarada de Augusto Melo, a nova presidência considerou nulos todos os atos praticados por Romeu Tuma Júnior desde 9 de abril. Entre eles está a sessão do dia 26 de maio, que aprovou o impeachment de Augusto. Ao assumir interinamente a presidência, Maria Angela determinou:
“Determino, no pleno exercício das minhas funções de presidente do Conselho Deliberativo: 1) a suspensão dos efeitos de todos os atos irregularmente praticados pelo senhor presidente do Conselho Deliberativo, senhor Romeu Tuma Júnior, desde o dia 9 de abril de 2025, data em que foi determinado e se tornou notório o seu afastamento dos exercícios de suas funções, decretando a nulidade inclusive da decisão tomada pelo plenário do Conselho Deliberativo no dia 26 de maio de 2025, relativamente ao afastamento do cargo do senhor presidente da diretoria.”
“Que o presidente da diretoria, senhor Augusto Melo, eleito pelos votos dos associados, reassuma imediatamente o cargo do qual foi indevidamente afastado, seguindo a orientação expedida pela Comissão de Ética de que deva ser aguardado o fim do inquérito policial para que possa ser julgada pelo Conselho Deliberativo em reunião regularmente convocada e da qual participem exclusivamente os conselheiros que sejam considerados aptos a deliberar na forma estatutária.”
Maria Angela justificou a autoproclamação como “herdeira” do cargo de presidente do Conselho por conta da licença médica do vice-presidente Roberson de Medeiros.
Confronto na sede social
No fim da tarde, uma grande confusão tomou conta do Parque São Jorge. Augusto Melo, já empossado pelas manobras de Maria Angela, e seus aliados tentaram retomar o comando do clube pela sede social. Osmar Stabile, presidente interino desde o afastamento de Melo, recusou-se a deixar a sala da presidência e chegou a ameaçar acionar a Polícia para garantir sua permanência.
Tuma Júnior contesta afastamento e denuncia “golpe”
Romeu Tuma Júnior declarou que jamais foi notificado oficialmente de qualquer afastamento e, por isso, não reconhece sua destituição. Em nota, afirmou:
“Primeiro: não fui notificado. Segundo: não reconheço meu afastamento. Pelos documentos publicados pela imprensa, vi que a ata não tem a assinatura do presidente, Roberson de Medeiros. Terceiro: a decisão tem que ser do colegiado, não do relator. Nesse sentido, quem tem que me notificar é o presidente da Comissão de Ética, não o relator do caso. Quarto e mais importante: pedi para a secretária do Conselho ter acesso aos processos da Comissão de Ética, e os processos contra mim não estão no clube. Sumiram!”
Na mesma noite, Tuma Júnior emitiu comunicado oficial com críticas severas ao movimento liderado por Augusto Melo:
“É uma tentativa de golpe institucional perpetrada por um ex-presidente afastado por um processo legítimo que tramitou dentro das regras estatutárias e convalidado pela Justiça. Lamento profundamente que até hoje, o ex-presidente, que já foi indiciado pela Polícia por diversos crimes, dentre os quais ter furtado o Corinthians, consiga, junto com alguns seguidores aloprados, continuar a manchar a história centenária e democrática do Corinthians. Golpistas não passarão!”
Ao longo do texto, Tuma classificou de “inaceitável” a manobra de quatro conselheiros que, segundo ele, se “acham superiores aos 300 que validaram os atos da Mesa Diretora do Conselho Deliberativo e deram posse ao presidente Osmar”. Ele reiterou que “não reconheço qualquer deliberação golpista, inválida, juridicamente nula” e prometeu recorrer às instâncias administrativas, cíveis e penais para “punir esses lunáticos”.
Impasse sobre o processo de impeachment
O afastamento de Augusto Melo, na última segunda-feira, 26, ocorreu por 176 votos a favor e 57 contra, resultando na sua destituição e na posse de Osmar Stabile. Porém, para que o impeachment seja definitivo, é necessária uma nova votação pelos sócios do clube, ato que ainda não se concretizou.
Por sua vez, a defesa de Tuma Júnior aponta que a punição liminar não possui respaldo estatutário. Além disso, afirma que não houve “justa causa para o pedido cautelar”.
Enquanto isso, Maria Angela agendou assembleia de sócios para 9 de agosto, antecedida por uma enxurrada de questionamentos jurídicos. O impasse interno tende a se prolongar, e a disputa pelo controle do Parque São Jorge deve ganhar novos contornos nos tribunais.