Com apenas duas semanas no Brasil, Chico da Costa já se tornou peça-chave no ataque do Mirassol. O atacante marcou três gols em três jogos, contra Palmeiras, Santos e Ceará, e voltou ao país após quase dez anos no exterior. Aos 30 anos, ele falou ao ge sobre sua trajetória e a nova fase na carreira.
“Todo mundo pergunta, né? ‘Pô, tua carreira tomou um rumo diferente, foi por um caminho que quase ninguém seguiu.’ Quando eu saí, ainda bem novo, com 20 anos, não tinha muita noção do que estava fazendo, eu simplesmente fui. Queria jogar, tinha vontade de sair e agarrei a oportunidade”, contou o jogador.
“Acabei abrindo um mercado interessante na América Latina, que acabou dando uma identidade para a minha carreira, algo que, naquele momento, eu nem imaginava. Mas foram anos importantes, de muito aprendizado e crescimento. Ao mesmo tempo, estou muito feliz de estar de volta. Estava com saudade do Brasil […] Estou realmente contente de estar aqui novamente.”
O mascote inusitado
Durante sua passagem pelo Bolívar, um boneco do personagem Chucky se tornou mascote extraoficial do elenco.
“O boneco foi uma brincadeira interna, exclusiva daquele vestiário do Bolívar em 2022. Era coisa do nosso grupo, algo que nunca revelamos publicamente, mas acabamos adotando ele como um mascote extraoficial”, disse Chico.
“Começamos a levá-lo para todos os lugares, e coincidiu justamente com o período decisivo da temporada, quartas de final, semifinal e final do campeonato. Acabamos campeões em cima do The Strongest, que era nosso rival, vencendo por 3 a 0 e eu fiz dois gols naquela final.”
“O boneco acabou ficando famoso, a torcida pegou carinho por ele e, mesmo não sendo o mascote oficial do clube, virou um símbolo daquele grupo. Eu mesmo ficava responsável por cuidar dele, ficou um tempo guardado lá em casa enquanto estive no clube. Foi uma brincadeira entre a gente, algo leve, divertido, que marcou aquele momento.”
Experiências de racismo
Chico também relatou episódios de racismo vividos no futebol sul-americano.
“Inclusive, foi justamente no Cerro, onde eu jogava, que isso aconteceu. Mas é algo que vai além de um caso isolado, faz parte de um contexto mais amplo da América do Sul, com exceção do Brasil. É difícil, porque a gente sente muita raiva quando essas situações acontecem”, contou.
“Nós vivemos o contexto da população negra, e quando a gente sai do país, percebe que muitos não conseguem entender por que isso machuca tanto. Justamente porque, em muitos desses lugares, essa questão racial não é vivida da mesma forma.”
“Talvez não doa neles como dói na gente, porque eles não têm esse histórico, essa vivência. Já nós, que presenciamos isso na nossa sociedade, sentimos de forma muito mais profunda. É um tema delicado, tanto que, no Brasil, racismo é crime. E isso diz muita coisa.”
Segundo o jogador, o diálogo foi uma forma de tentar conscientizar colegas de equipe.
“Eu procurava contextualizar, mostrar o nosso lado, fazer com que eles também enxergassem a gravidade do que estavam dizendo ou fazendo. Para eles, pode parecer apenas uma provocação, mas para nós, é algo muito mais sério.”
Adaptação e aprendizado
A ida para o exterior exigiu rápida adaptação ao idioma e à cultura local.
“Quando você está imerso em outro idioma, falando espanhol o tempo todo, o cérebro acaba se adaptando. Mas, para mim, isso nunca foi um problema. Sempre consegui falar em português normalmente. Foram só alguns momentos assim, bem pontuais, nada que me fizesse esquecer o idioma”, afirmou.
Chico também lembrou a saudade que sentiu da comida brasileira.
“Senti falta do arroz, feijão e da farofa todos os anos fora do Brasil, sou apaixonado por esse prato, é o meu favorito. Lá fora, não tem farofa. O feijão até aparece em muitos países, mas não do jeito que a gente está acostumado. No México, por exemplo, ele é muito consumido no café da manhã, mas em forma de pasta, não com caldo como aqui.”
Vivendo grande momento no Mirassol, o atacante encerrou celebrando a fase.
“Cheguei para somar”, finalizou.