O atacante Lucero, do Fortaleza, e o influenciador Bruno Alexssander, mais conhecido como Buzeira, tiveram seus nomes citados no relatório final do inquérito do “caso VaideBet”, elaborado pela Polícia Civil de São Paulo. Esse documento, que soma 272 páginas, trata da investigação sobre supostos crimes ligados ao contrato de patrocínio firmado entre o Corinthians e a casa de apostas. Embora ambos sejam mencionados no relatório, nem Lucero nem Buzeira constam entre os indiciados da investigação e, além disso, tampouco são apontados como participantes diretos do esquema. Além disso, as autoridades continuam investigando para esclarecer todas as nuances do caso.
Transferências sob suspeita
As menções ocorrem devido a movimentações financeiras realizadas por ambos com empresas que estão sob suspeita de envolvimento em lavagem de dinheiro, a Wave Intermediações Tecnológicas e a Victory Trading. Essas duas companhias aparecem, portanto, como intermediárias de valores desviados por meio do contrato entre Corinthians e VaideBet, que, segundo a investigação, teria movimentado ao menos R$ 1,4 milhão de forma ilícita.
No caso específico de Lucero, o relatório aponta duas transações feitas em dezembro de 2023: uma transferência de R$ 357 mil para a Wave e outra de R$ 130 mil para a Victory. De acordo com a Polícia, essas movimentações levantaram a hipótese de que as empresas operariam com recursos vindos do futebol, supostamente para ocultar a origem dos valores ou redirecioná-los a beneficiários ocultos.
Por sua vez, a defesa do atacante negou qualquer conhecimento prévio dessas companhias. “Ele e o jogador desconhecem as duas empresas”, informou Martín Prest, empresário de Lucero.
Buzeira e as conexões com empresas investigadas
No caso de Buzeira, a Polícia Civil identificou que ele e sua empresa, a Buzeira Digital, realizaram uma série de movimentações financeiras suspeitas com as companhias que estão sob investigação. Os dados obtidos por meio da quebra de sigilo bancário da Wave mostram que o influenciador recebeu quantias expressivas de fontes diretamente ligadas às empresas investigadas.
Entre julho de 2023 e junho de 2024, um agropecuarista de Goiás transferiu R$ 230 mil para a Buzeira Digital e movimentou R$ 405 mil em direção à Wave. Um promotor de vendas do Espírito Santo também enviou R$ 97 mil para o influenciador e repassou R$ 16 mil à mesma empresa. Além disso, uma terceira empresa depositou mais de R$ 3,3 milhões à Wave em 15 operações ao longo de 2024, das quais Buzeira recebeu parte dos valores.
A Victory Trading, por sua vez, também transferiu recursos significativos para a empresa de Buzeira. Em abril deste ano, a companhia enviou R$ 490 mil e R$ 510 mil em operações consecutivas. Cerca de duas semanas depois, fez um novo repasse de R$ 300 mil. Essas transferências ocorreram no mesmo período em que a Victory também direcionou recursos para a UJ Football — empresa que, segundo os investigadores, mantém ligações com o crime organizado.
A partir dessas informações, o delegado Tiago Fernando André descreveu no relatório:
“A Polícia, diante dessas movimentações, diz ser ‘suspeito constatar que os valores desviados do clube do Parque São Jorge percorreram as contas da Wave e da Victory e que Buzeira, com ótimo trânsito junto à direção corintiana, foi citado no Relatório de Informação Financeira da Wave e, mais grave que isso, recebeu vultuosas quantias da Victory’.”
O delegado acrescentou:
“Vislumbra-se um entrelaçamento atípico de pessoas ligadas, direta ou indiretamente, à direção da agremiação lesada, com o agravante que há fortes indícios a indicar que as sociedades empresariais em tela, bem como o influenciador citado, mantêm aparente relação com o crime organizado.”
Relação com o Corinthians
A investigação também anexou imagens de Buzeira em eventos e reuniões no CT Joaquim Grava, sede do Corinthians, com o objetivo de evidenciar sua proximidade com a gestão de Augusto Melo. Além disso, há registros do influenciador no gramado, celebrando com atletas após o título do Paulistão 2025. Segundo uma denúncia anônima, ainda não confirmada, Buzeira teria contribuído financeiramente com a campanha de Augusto. No entanto, o relatório não encontrou provas diretas desse apoio.
Questionado sobre o caso, Buzeira respondeu de forma categórica:
“Não tem nada a ver com VaideBet, nunca nem divulguei. Manda a Polícia abrir uma investigação. Não devo satisfação para ninguém.”
Situação atual
Apesar das menções a ambos, nem Buzeira nem Lucero constam entre os cinco nomes indiciados formalmente no inquérito, todos eles ligados diretamente à antiga diretoria do Corinthians. A inclusão de seus nomes no relatório ocorre, portanto, exclusivamente pelo rastreamento financeiro das empresas investigadas. Até o momento, não há evidências que os vinculem diretamente ao núcleo responsável pelos desvios. Contudo, a Polícia Civil ainda apura os desdobramentos das movimentações detectadas para esclarecer completamente o caso. Além disso, a investigação segue em andamento para aprofundar todos os aspectos envolvidos.