A nova diretoria do Corinthians, que assumiu o clube há menos de um mês, identificou dois aditivos contratuais considerados lesivos, firmados pelo presidente afastado Augusto Melo com empresas do grupo RF Segurança e Serviços. Esses contratos estendem os serviços de limpeza e vigilância no Parque São Jorge até 2030, com cláusulas de rescisão que podem custar ao clube até R$ 29,6 milhões.
Segundo informações publicadas inicialmente pela Gazeta Esportiva, os contratos originais tinham validade até o fim de 2026, coincidindo com o mandato de Augusto. A rescisão previa o pagamento de apenas uma mensalidade. Com as alterações feitas três semanas antes de seu afastamento, a multa passou a ser o valor total remanescente até 2030.
A nova diretoria afirma que não registrou os aditivos nos sistemas internos do clube e que não os encontrou nos departamentos jurídico e administrativo. O diretor jurídico Leonardo Pantaleão detalhou:
“Ao tomarmos posse, começamos a verificar empresas que prestavam serviços ao Corinthians, entre elas a de segurança e limpeza, que sempre foi alvo de questionamentos internos: de onde vêm, se estão regularizadas… Em paralelo, fizemos uma nova cotação no mercado, e o departamento administrativo escolheu uma nova prestadora.”
“Verifiquei nossos sistemas internos e não havia nenhum aditivo (com a RF). O que encontrei foram e-mails de 22 de maio em que mandaram três arquivos para análise do jurídico. Conversando internamente, falaram que o jurídico reprovou as condições apresentadas e que não assinou nada. Então, notificamos a empresa para romper o contrato. Logo na sequência, recebemos uma contranotificação dizendo que não era aquela a forma de rescindir, que existiam aditivos celebrados e que deveriam ser cumpridos.”
Diante do impasse, o clube decidiu romper os contratos sem pagar a multa e promete contestar judicialmente a validade dos aditivos. A atual gestão também prepara medidas para responsabilizar Augusto Melo por possíveis prejuízos financeiros ao clube.
Segundo Pantaleão, os documentos foram assinados fora dos trâmites internos regulares e apresentam fortes indícios de irregularidade:
“Ao analisar os documentos, verificou-se que o aditivo foi produzido fisicamente, fora dos sistemas oficiais do clube, utilizando um carimbo aparentemente diverso do usual e ostentando um visto jurídico cuja autoria não é reconhecida por nenhum dos profissionais que integravam o setor na época, o que reforça fortemente os indícios de tentativa de simular uma validação jurídica inexistente, e cuja autoria deve ser apurada.”
O clube realiza uma varredura para identificar se há outros casos semelhantes. Pantaleão foi enfático:
“O problema é que eu posso averiguar e não achar nada internamente, como foi neste caso. Mas tudo aquilo que for localizado como injustificável para o clube, será apurado nas vias específicas, tanto internamente, quanto na esfera civil e, quem sabe, criminal. Chegou a hora de tomar medidas radicais. O Corinthians está tentando se reerguer, e as pessoas estão multiplicando multas rescisórias e lesando o clube?”
Um terceiro aditivo, relacionado à Neo Química Arena, foi elaborado, mas ninguém o assinou. O clube deve levar o caso aos tribunais, com base na Lei Geral do Esporte.
Augusto Melo se defende e acusa atual diretoria de perseguição
Em nota oficial, Augusto Melo lamentou o vazamento de informações internas e defendeu os contratos assinados:
“Se acham que há algum problema, basta não rescindir. Não há prejuízo algum em manter o contrato vigente até o fim do prazo pactuado, já que a empresa vinha fazendo um excelente trabalho e com um custo benefício significativo no mercado.”
Melo ainda acusou a atual gestão de usar vazamentos seletivos como estratégia política:
“Causa espanto e profunda preocupação como documentos sigilosos do Corinthians vêm sendo fornecidos à imprensa sem nenhum critério ou cautela pela atual diretoria interina. Essa prática, além de irresponsável, evidencia de forma nítida a intenção de prejudicar a administração anterior.”
“A empresa que deixou a Neo Química Arena como a mais limpa do Brasil, com referência em sites especializados, e com maior organização de saída de pessoas em grandes eventos. Agora, quem tem de fato causado prejuízos ao clube é essa gestão que deveria ser temporária, mas que já rescindiu praticamente todos os contratos firmados pela administração Augusto Melo, sem apresentar justificativas técnicas e sem transparência.”
“Mais curioso ainda é o silêncio em relação aos contratos claramente lesivos assinados na véspera da posse de Augusto Melo pela gestão anterior, de Duílio Monteiro Alves.”
Melo também criticou a exposição pública do caso:
“A imprensa, ao invés de endossar esse tipo de jogo, deveria se debruçar sobre o verdadeiro crime institucional: o de quebrar sigilos internos, de expor dados e pessoas do clube, violando normas básicas de governança e ética. Quem está expondo o Corinthians de maneira sistemática e danosa, dia após dia, é que deveria ser responsabilizado.”
“Outro ponto importante: ninguém abre as contas de 2023. Por quê? Porque se forem abertas, podem revelar irregularidades graves, que muitos hoje preferem manter encobertas.”
“Se houver algum erro ou inconsistência, que se apure. Mas que se faça isso com responsabilidade, com contraditório, dentro do devido processo legal, e não com ataques midiáticos.”
Corinthians promete medidas e reforça compromisso com a transparência
Em resposta oficial, o clube afirmou:
“O Sport Club Corinthians Paulista informa que desde que a gestão atual tomou posse no dia 26 de maio iniciou um processo de revisão dos contratos em vigência com a finalidade de melhorar a eficácia e de resguardar a regularidade dos serviços prestados ao clube.”
“No caso da empresa em questão, a atual gestão identificou cláusulas que lesam o clube financeiramente, além de assinaturas realizadas em processos fora do rito habitual dentro de um ambiente regido pela regularidade e pela governança.”
“O Corinthians reforça que acordos lesivos ao clube não terão continuidade e que irá adotar todas as medidas administrativas, cíveis e criminais cabíveis para anular o contrato com a empresa citada na reportagem… Da mesma forma, o Corinthians irá responsabilizar os envolvidos em mais um caso estarrecedor descoberto.”
“A gestão do presidente Osmar Stabile reafirma seu compromisso com o profissionalismo, com a ética e com os interesses maiores de todos os setores relacionados à Instituição Corinthians.”
O caso se soma a uma série de embates internos que envolvem a gestão anterior e a atual diretoria, e deve ganhar novos capítulos nos tribunais.