A nova diretoria das categorias de base do Corinthians, liderada por Carlos Roberto Auricchio, o Nenê do Posto, encontrou um cenário preocupante nos primeiros dias de trabalho. Segundo ele, o setor apresenta um “inchaço total”, com excesso de atletas e até mesmo de funcionários, dificultando o funcionamento adequado das comissões técnicas. Por isso, o clube prepara uma reformulação ampla, com a dispensa de dezenas de jogadores e reestruturação do departamento.
“Nosso intuito principal é dar uma enxugada. O problema vai do sub-7 ao sub-20, é uma coisa impossível de qualquer comissão trabalhar. Os técnicos não conseguem nem treinar direito, eles dividem o campo em três para caber todo mundo no treino. Do jeito que está precisaria ter dois centros de treinamentos”, afirmou Nenê.
Contratações em excesso
Desde o início de 2024, sob gestão do ex-presidente Augusto Melo, o clube contratou 87 jogadores para a base e criou novas categorias, como sub-16 e sub-18. A atual administração, comandada pelo presidente interino Osmar Stabile, decidiu extinguir essas categorias, alegando falta de torneios disponíveis e superlotação dos elencos.
“O problema é que ano passado eles trouxeram de penca jogadores. Eu era da comissão do futebol (do Conselho Deliberativo) no começo da gestão do Augusto e, na primeira reunião, em março de 2024, eu falei: está errado, não é possível trabalhar com esse número de atletas”, relatou o dirigente. “O nosso sub-20 jogou a última partida com três atacantes, dois de 17 anos (Nicollas e Luiz Fernando) e um de 15 (Kayque Dallaqua). Os que têm idade para a categoria não têm condições de jogar.”
Apesar da intenção de reduzir o elenco da base, o Corinthians enfrenta um desafio: boa parte dos atletas tem contrato profissional, o que exige pagamento de indenização em caso de rescisão unilateral. A ideia do clube é tentar acordos amigáveis para evitar prejuízos financeiros.
“Vou tentar convencê-los que é melhor sair de boa. Também iremos tentar colocar esses jogadores em algum clube para que eles não fiquem só treinando. É até bom pra eles saírem para não ficarem perdendo tempo. A inscrição da Copinha será já em setembro.”
Fragilidades
A nova diretoria também identificou deficiências técnicas em algumas posições e, após o enxugamento, pretende buscar reforços pontuais. Contudo, Nenê do Posto faz questão de destacar que a reestruturação não se limitará aos jogadores.
“Temos que olhar também funcionários, que há em excesso, dar uma enxugada na folha. O departamento está inchado em todos os aspectos. Em 2019, quando eu saí da base, era coisa de R$ 700 a R$ 800 mil o custo mensal. Hoje é de R$ 1,5 milhão, quase R$ 1,6 milhão. É um absurdo, por isso o clube não aguenta.”
Com longa trajetória no clube, Nenê do Posto esteve na diretoria de base entre 2017 e 2020 e participou de outras gestões desde os anos 1980. Apesar da dedicação ao Corinthians, ele conta que nem sempre sua família entende o envolvimento.
“A família não entende porque a gente se doa tanto ao clube sem nunca ter ganho um centavo, mas é o danado do futebol, sou doente por esse esporte. E coloco isso com o maior orgulho: trabalhei quatro décadas como diretor e com vários presidentes diferentes, mas nunca o Corinthians pôs um pãozinho na minha mesa.”
