Organizada do Juventus paralisa atividades após clube virar SAF

Torcida histórica da Mooca afirma que o clube “foi entregue” e encerra ciclo de quase 20 anos de resistência e identidade cultural.

Por: Lucas Soares
22 horas atrás em 1 de novembro de 2025
Reprodução



O Clube Atlético Juventus vive uma das mudanças mais profundas de sua história. Após décadas de crise e discussões internas, o clube da Mooca concluiu oficialmente, na sexta-feira, 24, o processo de transformação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF). A formalização, que encerra o regime associativo e transfere o controle do futebol a investidores privados, também marcou o fim de uma era fora das quatro linhas: a torcida organizada Setor 2 anunciou a paralisação de suas atividades.







O grupo, uma das expressões mais combativas e simbólicas da Juventus nas arquibancadas da Rua Javari, divulgou um longo comunicado nas redes sociais declarando que o “Juventus foi entregue” e que o novo modelo de gestão rompe com a essência do clube.






“A partir de agora, o ‘Juventus’ tem formalmente um dono, e este dono não é sua gente, torcedores e associados”, escreveu a torcida. “O Setor 2 não fará parte desta autodeclarada ‘nova fase’. O Juventus que defendemos acabou, assim, não há por que seguir.”






Fundado há quase duas décadas, o Setor 2 surgiu em um momento de distanciamento do Juventus de suas origens populares e da sua própria torcida. O grupo se consolidou como um movimento de reconstrução identitária, com forte presença nas arquibancadas, e foi responsável por transformar o discurso sobre o clube até então visto por muitos como um “time de bairro” ou “segundo time” de São Paulo.






“Nos piores momentos da história do nosso futebol, pouco a pouco conseguimos fazer nascer um movimento que deu ao Juventus algo inédito: mover e criar uma massa de torcedores que deixou no passado os velhos jargões do ‘clube de bairro’”, afirmou a nota.






No comunicado, o grupo acusa antigas e atuais gestões do clube de promoverem uma “cultura de desprezo” pelo futebol juventino, culminando na entrega do patrimônio esportivo a investidores. Para os integrantes, a SAF representa o rompimento definitivo entre o Juventus e sua base social. O novo modelo, argumentam, transforma a identidade do clube em mera “estética explorável” e o futebol em um produto.





Ao anunciar o encerramento das atividades, o Setor 2 afirmou que não apoiará nem participará de campanhas da nova gestão e que cada integrante seguirá, individualmente, o vínculo afetivo com o clube.






“Somos compostos por uma massa de juventinos que, a partir de agora, segue cada um à sua forma, fora da centralidade do que construíamos na torcida”, diz o texto. “Aos que cavaram essa cova, nunca serão esquecidos como os responsáveis pelo fim de nossa história centenária.”