Referência no Mirassol, Negueba fala sobre sua trajetória

Ídolo, referência técnica e o atleta que há mais tempo veste a camisa do Mirassol. Esse é o peso que Negueba carrega — embora poucos o reconheçam pelo nome de batismo, Luiz Henrique Soares Firmino. Enquanto o clube se transformava e chegava ao cenário continental, ele se manteve ali, firme, desde os tempos da Série C.

A ascensão recente, coroada pelo quarto lugar no Brasileirão em seu ano centenário, colocou o Mirassol entre os grandes. Mas antes de qualquer holofote, Negueba já acumulava minutos, história e identificação. Desde 2022, são 165 partidas, marca que o consagra como o jogador que mais atuou pelo Leão.

Nascido em Ceará-Mirim (RN), Negueba cresceu em uma casa de estrutura modesta, mas cercado de incentivo. Pai e avó não deixavam faltar apoio — e foi nesse ambiente que a bola virou parte da vida. Ele lembra que qualquer objeto arredondado servia para brincar: limão, bolinha de roll-on… o que aparecesse se transformava em chuteiras e traves improvisadas.

Mesmo começando pelo futsal, a paixão verdadeira estava no gramado. Aos 13 anos, a aprovação na peneira do Globo-RN mudou sua rotina e o fez colocar o sonho acima dos estudos. Mas sua confiança no futuro já vinha antes:

“Eu ainda nem jogava no Globo, estava ouvindo Palmeiras x América-RN pelo rádio e disse para o meu primo: ‘Um dia vou enfrentar esse time’.”

Anos depois, o destino tratou de confirmar o recado.

Negueba passou por alguns clubes do Nordeste até viver seu ponto de virada em 2021. Somando Globo e ABC, marcou 19 gols em 30 jogos, desempenho que fez o Mirassol entrar em cena com uma proposta concreta. A decisão de sair do conforto do Nordeste para tentar algo totalmente novo em São Paulo foi tomada com o coração — e muita fé.

“Viemos sem conhecer nada. Nos jogamos no ‘seja o que Deus quiser’. Hoje, vemos o quanto valeu.”

A adaptação foi rápida. O que seria apenas uma oportunidade se transformou em um vínculo profundo com o clube, que hoje o trata como símbolo e referência.

Em 2024, Negueba viveu talvez seu capítulo mais turbulento no Mirassol. Lesões seguidas o tiraram de jogos importantes, e a reabilitação demorou. Ele não se esconde, assumindo publicamente que parte das dificuldades teve origem em seus próprios comportamentos.

“Gostava de beber em casa, achava que não faria diferença. Mas faz. O corpo cobra.”

A partir dessa percepção, ele mudou drasticamente sua rotina: deixou o álcool completamente, passou a dedicar mais tempo à família, trocou os churrascos por videogame, igreja e passeios simples com o filho.

Desde então, afirma ser outro profissional — e acredita estar preparado para competições mais exigentes, algo que antes não via como realidade.

Negueba tem contrato até o fim de 2027 e vive a expectativa de entrar em campo na primeira Libertadores da história do Mirassol. A conquista da vaga mexeu com o atacante e sua família, que celebraram como quem vive uma história escrita a muitas mãos.

Curiosamente, não é essa lembrança que ele guarda como a mais forte. O momento inesquecível veio quando calaram a desconfiança que acompanhava o time desde o começo do Brasileirão.

“Garantir a permanência contra o Fluminense foi especial. Era a meta, e aquele grupo merecia.”

A trajetória de Negueba mostra um jogador que não apenas cresceu no campo, mas amadureceu fora dele.

Da infância com limões chutados no quintal ao protagonismo pelo Mirassol, sua caminhada reúne fé, esforço, disciplina e transformação pessoal.

Hoje, Negueba representa mais que números ou estatísticas: é parte fundamental da reconstrução e da identidade do clube.
E enquanto o Mirassol escreve novos capítulos, ele segue ali, como uma de suas figuras mais simbólicas.