Danilo trouxe reflexões importantes sobre a realidade atual do futebol de base no Brasil. Em meio à preparação para a Copa São Paulo, o treinador abordou temas que vão além do campo, como a pressão precoce sobre jovens atletas e a necessidade de evolução nos processos de formação.
Foto: José AugustoNo episódio 121 do quadro Exclusiva TSP, conversamos com Danilo Benjamim, treinador do Sub-20 do Capivariano, que trouxe reflexões importantes sobre a realidade atual do futebol de base no Brasil. Em meio à preparação para a Copa São Paulo, o treinador abordou temas que vão além do campo, como a pressão precoce sobre jovens atletas e a necessidade de evolução nos processos de formação.
O futebol de base brasileiro vive um momento de transformação profunda. Se, por um lado, a visibilidade nunca foi tão grande — com transmissões ao vivo, redes sociais e avaliações constantes —, por outro, cresce também a cobrança sobre atletas cada vez mais jovens. Nesse cenário, clubes, treinadores e comissões técnicas precisam olhar para o desenvolvimento humano com a mesma atenção dedicada ao desempenho esportivo.
“Hoje em dia, os jovens atletas estão sobrecarregados pela pressão, desde cedo. A competição é intensa, e o futebol profissional exige resultados rápidos.”

Hoje em dia, garotos do Sub-13 já tem seus jogos televisionados para todo o Brasil. Foto: Victor Monteiro/FPF
Atualmente, crianças com menos de 10 anos já disputam campeonatos com transmissão ao vivo, estatísticas públicas e cobrança externa. Esse ambiente, cada vez mais parecido com o do futebol profissional, acelera processos que deveriam ser graduais.
Além disso, muitos atletas passam longos períodos longe da família, vivendo em alojamentos e convivendo diariamente com a cobrança por desempenho, evolução e resultados. Como consequência, casos de ansiedade, burnout e até desistência precoce da carreira se tornam mais frequentes.
“A pressão por conquista e por resultado está acontecendo muito cedo. Isso acaba pulando etapas importantes da formação.”
Nos últimos anos, clubes brasileiros passaram a investir mais em metodologia, estrutura física e integração entre base e profissional. No entanto, a evolução não pode se limitar aos aspectos técnicos, táticos e físicos.
A formação do atleta exige, cada vez mais, uma abordagem multidisciplinar, que considere o desenvolvimento emocional, cognitivo e social dos jovens jogadores. Psicólogos, pedagogos e assistentes sociais deixam de ser diferenciais e passam a ser necessidades.
“Hoje a gente tem muitos especialistas na parte técnica e física, mas ainda carece de atenção na parte emocional e cognitiva.”
Nesse contexto, o papel do treinador também se transforma. Mais do que montar equipes competitivas, ele assume uma função pedagógica. Cabe às comissões técnicas criar ambientes de aprendizagem, reduzir excessos de cobrança e ajudar os atletas a lidarem com frustrações, expectativas e exposição.
Além disso, metodologias modernas priorizam processos, não apenas resultados. O desempenho coletivo, a tomada de decisão, o entendimento do jogo e o prazer em jogar voltam ao centro da formação.
“A gente precisa resgatar o amor pelo jogo, o cuidado com a bola e o prazer de jogar futebol.”

A discussão sobre pressão precoce e evolução das categorias de base não aponta para um caminho de menor competitividade, mas sim para um futebol mais sustentável. Clubes que entendem esse processo tendem a formar atletas mais preparados — não apenas tecnicamente, mas emocionalmente — para lidar com o alto nível do futebol profissional.
A base brasileira segue como uma das maiores produtoras de talento do mundo. O desafio, agora, é garantir que esses talentos cheguem mais longe, mais saudáveis e mais completos.
“Formar bem é respeitar o tempo de cada atleta.”
Confira a entrevista na íntegra!




