TSP Crônicas: Grená

Publicados 5 meses atrás em 20 de abril de 2024
Por: Mário Afonso Pontieri

Tem uma camiseta grená no guarda-roupas do meu quarto. Nascido em Matão, no interior de São Paulo, gostosa cidade que fica coladinha em Araraquara, município onde existe um histórico time de futebol, muito simpático aos torcedores de todo Brasil, a Ferroviária. Poderia ser, mas não é da locomotiva a camiseta grená. Ela é de um time de futebol sim, mas esse não pertence a uma cidade, talvez seja o único no mundo que pertence a um bairro. Bom, talvez não o único que pertença a um bairro, mas certamente o único que se confunde com o próprio bairro em que reside.

Quando me mudei para a cidade de São Paulo, era um caipira (com orgulho de sê-lo) em meio ao caos. Meus alunos logo me apelidaram de Chico Bento, alcunha que guardo com carinho, admirador que sou de Maurício de Souza e toda sua turminha. O carinho descrito se estendeu do apelido para uma convivência agradável, saudável e feliz que toda relação professor-aluno deveria ter. As cores da escola se confundiam pelo bairro onde eu lecionava. O uniforme era grená. Porém, apesar de guardar muita saudade e muito carinho daquela instituição pela qual tantos anos trabalhei, de volta ao interior, não é do colégio a tal camiseta grená em meu armário.

Foi sim, todavia, por um convite afetuoso de um grupo de alunos, desse mesmo colégio paulistano, ao recém chegado professor caipira, admirador do futebol raiz, que em uma tarde qualquer de alguns longos anos já passados, aceitei assistir a um jogo daquele time do qual eles tanto falavam. O time era do bairro deles. Chegando lá, muitas coisas me chamaram a atenção. Eu, calado, em minhas silenciosas observações, notei: curiosamente vendia-se mais cannolis do que cerveja ou pipoca. Incomum.

Finalmente uma camiseta grená cruzou o meu caminho, eram poucas as pessoas que chegavam, ainda era cedo. A camiseta deveria ser do time, afinal todo torcedor, em dia de jogo, ama vestir suas cores. A cor era grená e o estampado dizia: “Mooca é Mooca, meu”. A camiseta era do bairro.

Lá dentro do estádio, um sotaque ecoava apoiando o time. Quando morava no interior, achava que aquele dialeto pertencia ao paulistano em si, a toda pessoa nascida na capital, mas não, aquele som tinha um dono, era um bairro, a Mooca meu. Acostumado a ver torcedores e clubes clamarem por progresso, ali me deparei foi com protesto. “Ódio eterno ao futebol moderno” gritavam aqueles que recusavam um estádio novo, um time do futuro.

Hoje esse time faz 100 anos, e seus fanáticos torcedores só querem é que ele continue assim como sempre foi, centenário, travesso e encantador. Um time que se confunde com um bairro e que me fez sorrir e torcer junto de seus seguidores apaixonados naquela tarde com gosto doce de cannoli e sotaque ítalo-brasileiro. Saí do estádio, ou melhor, do campo, com um sorriso no rosto, uma admiração no peito e uma camiseta grená nas mãos. Por essa e tantas outras bonitas memórias é que agradeço: Obrigado, Juventus, por eternizar em mim as melhores lembranças da Mooca.

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