José Mário Pavan explica modelo inovador, relembra período de passivo pesado e detalha recuperação recente do clube de Araras
Foto: Divulgação/União São JoãoMuito antes de o futebol brasileiro discutir modernização, governança e SAFs, o União São João já adotava um formato de gestão privado, enxuto e empresarial. Um modelo que, décadas depois, seria reconhecido como precursor das atuais Sociedades Anônimas do Futebol (SAF). Mas se o clube foi vanguarda na estrutura, também enfrentou fortes turbulências, acumulou passivo e precisou de um processo profundo de reorganização até reencontrar estabilidade.
Em entrevista ao Canal 1902, o presidente José Mário Pavan relembrou essa trajetória, explicou erros e acertos e mostrou como o União pavimentou sua recuperação recente.
Nos anos 1980 e 1990, quando o futebol brasileiro ainda era administrado por conselhos amadores, eleições políticas e pouca transparência, o União já operava sob lógica particular: clube privado, gestão profissional e estrutura empresarial.
“Aqui sempre foi tudo feito com muito controle. Tivemos que cuidar de tudo, passo a passo”, destacou Pavan.
Esse modelo permitiu ao clube revelar talentos, disputar competições nacionais e construir um patrimônio que poucos clubes de interior possuíam.
De certa forma, o União funcionava como uma SAF antes da palavra existir — com autonomia, metas e independência administrativa.
Mesmo com o modelo empresarial, o União não escapou do ciclo que atingiu diversos clubes do interior:
altos investimentos, folha pesada, tentativas consecutivas de acesso e um acúmulo crescente de dívidas.
“O União ficou um bom tempo afastado e tivemos que reestruturar tudo.”
O clube se viu pressionado pelo passivo, perdeu competitividade e acabou se afastando das prateleiras mais altas do futebol paulista.
A estrutura resistiu, mas o clube financeiro e institucionalmente entrou em colapso, sendo obrigado a reduzir atividades e se reorganizar para sobreviver.
Essa fase marcou a ruptura entre o modelo eficiente dos anos 90 e os desafios que explodiram nos anos 2000 e 2010.
A retomada recente passou por um processo profundo de revisão documental, renegociação de pendências e reorganização de patrimônio.
“Tivemos que cuidar do passivo, organizar de novo e colocar tudo no lugar.”
A reconstrução teve três pilares: disciplina administrativa, preservação de patrimônio, visão realista sobre o tamanho do clube.
O mais importante: o União nunca perdeu o que muitos clubes perderam — o Estádio Hermínio Ometto, sempre bem cuidado, sempre funcional, sempre pronto para receber categorias de base e atividades oficiais.
Nos últimos anos, o Brasil viveu uma explosão de SAFs: Cruzeiro, Vasco, Botafogo, Bahia e tantos outros encontraram no modelo uma saída emergencial diante de dívidas impagáveis.
O União São João assiste a tudo isso de forma particular: ele nasceu com essa lógica lá atrás, viveu seus erros, caiu, pagou o preço, reorganizou-se e agora chega à era da SAF com lições aprendidas décadas antes.
Pavan explica que o União não descarta caminhos, mas deixa claro: se um dia migrar para SAF formal, será por estratégia — nunca por desespero.
A fala de José Mário Pavan reconstrói a trajetória completa do União:
• pioneiro em gestão,
• vítima de desequilíbrios financeiros,
• sobrevivente graças ao patrimônio preservado,
• e hoje, reorganizado para crescer novamente.
O clube que foi “clube-empresa” antes da moda agora se prepara para subir prateleiras no futebol paulista com maturidade, consciência e gestão tecnicamente ajustada.